Gosto de andar em carrosséis. De dar voltas e voltas pelo ar, num constante sobe-e-desce, a grandes velocidades. Quando a Feira Popular de Lisboa existia, este era o meu divertimento preferido. Recordo-me que, em criança, gostava muito de brincar com um carrossel em miniatura que me ofereceram. Há muitos anos que não ando num carrossel. Mas os recentes e graves acidentes - como o de hoje, que provocou quatro feridos em Esmoriz - obrigam-me a pensar duas vezes sempre que tiver vontade de dar andar num carrossel. Afinal, até o próprio Governo assumiu que a lei respeitante às normas de segurança e fiscalização deveria ser mais apertada.
O secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, Mário Mendes, já tinha alertado. É previsível que o verão deste ano seja igualmente «quente» no que diz respeito à criminalidade, tal como o foi o de 2008. Quem não se recorda do assalto ao BES de Campolide? Da carrinha de valores roubada em plena A2, com recurso a explosivos? Dos homicídios de Alexandra Neno e Diogo Ferreira? Dos vários assaltos a bancos? Dos distúrbios na Quinta da Fonte e na Quinta do Mocho, no concelho de Loures?
Os recentes casos de violência no Bairro da Bela Vista, em Setúbal, trazem-nos à memória todos estes acontecimentos. E as palavras do juiz-conselheiro Mário Mendes não nos dão qualquer tranquilidade. Mais do que um caso de Polícia, estes sinais de conflitualidade são, em primeira instância, um problema social e económico e é desta forma que deve ser atacado.
Uma semana depois de ter denunciado que os militares da GNR de Vialonga eram transportados numa carrinha celular, por falta de outro meio de transporte, a SIC noticiou hoje que essa carrinha foi substituída por um veículo... que não tem a inspecção obrigatória em dia e que tem uma porta... emperrada. Sinceramente, não sei o que é pior! As duas situações são extremamente humilhantes para uma força que tem como objectivo a defesa da segurança dos cidadãos (incluindo a segurança rodoviária) e que por estes deve ser respeitada. Mas se nem os seus próprios superiores hierárquicos parecem preocupar-se com este tipo de situações, não se admirem, depois, se os militares forem alvo de chacota ou não poderem acorrer com a prontidão exigida a situações de emergência.
Estaremos num país do terceiro mundo e eu ainda não dei por nada?
Não sei se entendi bem, confesso! Na sequência do tiroteio que ocorreu na noite de ontem no Bairro Portugal Novo, nas Olaias, o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, disse hoje que "por não se tratar de um bairro municipal, mas sim de iniciativa de uma cooperativa" é uma propriedade "estranha ao município". E, por isso, a autarquia nada tem a ver com o assunto.
Mesmo já tendo sido alertada pela PSP e pela própria Junta de Freguesia dos problemas de insegurança e de degradação urbanística e social sentidos naquela zona, a Câmara descarta-se de qualquer responsabilidade só porque o bairro não é municipal. Aquele, diz António Costa, é um caso de Polícia, dos polícias da esquadra que ali funciona mesmo ao lado.
Quem ali mora não tem os mesmos direitos, nem a mesma atenção por parte da Câmara de Lisboa por não viver num bairro municipal. Se o pensamento é este, então grande parte do território do concelho não é da responsabilidade da Câmara. Então, não se entende por que razão os agentes da Polícia Municipal patrulham a zona da Baixa/Chiado, uma vez que ali não existem casas municipais. Não se entende por que é que estes mesmos agentes patrulham a zona das Avenidas Novas. Aqui, também não há casas municipais, bem pelo contrário.
Não sei se entendi bem, confesso!
São 8.30, hora de ponta em qualquer cidade do mundo. Lisboa não é excepção. Uma jovem, já um pouco atrasada para o emprego, corre escada abaixo quando houve o metro apitar. Como ela, outras pessoas, também apressadas. Estão na estação de Santa Apolónia. Esta jovem consegue entrar no metro mesmo a tempo de não ser literalmente trucidada pelas portas da comboio, mas a mala que leva na mão não teve tanta sorte e fica presa.
Tanto a jovem como os restantes utentes que se apercebem do caso alertam o maquinista e pedem para que abra as portas, de forma a que a jovem possa recolher a mala. Em vão! O maquinista faz orelhas moucas.
O segurança, que se encontrava na plataforma e assistiu a tudo, insiste com o maquinista e lembra-lhe que é contra as regras de segurança viajar naquelas condições. Uma vez que a mala está do lado de fora, pode ficar presa a um qualquer objecto ao longo da viagem. Em vão! O maquinista faz orelhas moucas.
Dentro do comboio, ele é rei e senhor. É ele quem decide o que fazer e quando. Quer lá saber dos avisos dos outros. Ali, quem manda é ele. E, por isso, a jovem viajou com a mala do lado de fora da porta desde a estação de Santa Apolónia até à Amadora (estação terminal)! E, mais uma vez, não quis saber das críticas dos outros.
Esta pode parecer a sinopse de um livro ou de um filme, mas não é. O episódio é verdadeiro e aconteceu recentemente no Metro de Lisboa.
A onda de crimes violentos parece não querer acalmar. E os órgãos de comunicação social, à falta de assuntos mais polémicos, capazes de fixar a atenção das audiências, continuam a alimentar a opinião pública com notícias sobre criminalidade. Não que estas não tenham valor-notícias mas - à excepção do assalto ao BES de Campolide e à carrinha de valores na auto-estrada do Sul -, a verdade é que todos os dias ocorrem vários crimes por este país a fora.
Hoje, a notícia de que um homem de 30 anos foi baleado com três tiros dentro da esquadra da PSP de Portimão por um vizinho, de quem ia apresentar queixa, orginou um rol de críticas por parte daqueles que consideram que a segurança é um assunto da exclusiva responsabilidade do Governo e das forças policiais. Muitos afirmavam que já nem nas esquadras estamos em segurança. Mas a verdadeira questão não é esta!
Ninguém quer um Estado policial, em que em nome da segurança colectiva todos os outros direitos, principalmente o da liberdade, sejam postos em causa. Ninguém quer, pelo simples facto de entrar numa esquadra da PSP ou num posto da GNR, ser revistado como se de um criminoso se tratasse. Qualquer dia, só pelo simples facto de visitarmos uma exposição, assistirmos a uma peça de teatro ou a uma cerimónia religiosa, por exemplo, teríamos que ser minuciosamente vistoriados por elementos das forças policiais para evitar que cometessemos um qualquer crime.
Há que não ter ilusões. O crime sempre existiu e sempre existirá. Aquilo que constitui crime é definido por cada sociedade, em cada época, bem como as sanções a que os autores dos mesmos ficam sujeitos. Deve ser feita uma aposta na prevenção da criminalidade, antes de avançarmos para a repressão da mesma. Devem ser atacadas as suas causas - os problemas sociais e económicos que muitas vezes impulsionam muitas pessoas a cometer determinados crimes - em vez de se realizarem operações policiais, como as que ultimamente temos assistido, que mais não são do que espectáculos mediáticos para calar a voz do povo.
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