O anúncio irritavamente profundamente porque não conseguia perceber que raio de mensagem pretendia transmitir. Tanto a forma como o conteúdo me pareciam totalmente despropositados para publicitar um serviço de notícias e, talvez por isso, não me tenha apercebido dessa mensagem subrepticia contra um dos maiores valores da democracia: o direito à manifestação! A polémica que estalou em torno deste spot publicitário, transmitido amiudadas vezes na RTP, é manifestamente exagerada quando comparada com tantos outros filmes publicitários que passam nos canais de televisão e de rádio, que são publicados nos jornais e revistas e mesmo na Internet. Alguns são verdadeiros atentados a direitos constitucionais e ninguém os critica. Desta vez, só porque o Governo menosprezou a grandeza da manifestação da GGTP da semana passada, considera-se que o anúncio faz parte de uma campanha negra contra quem quer manifestar-se contra o Executivo de Sócrates.
A manifestação dos professores já tinha chegado ao Largo do Rato há um bom tempo, mas quem circulava na rotunda do Marquês de Pombal e quisesse seguir para a Rua Braamcamp continuava impedido de o fazer pelos agentes da PSP que ali permaneciam à espera de novas ordens. "Impedido" é uma força de expressão, não fossem os portugueses conhecidos além-fronteiras pelo seu chico-espertismo e por serem especialistas na arte do desenrascanço. E foi recorrendo a esses seus dotes que o condutor de uma carrinha entrou em contramão na Braamcamp sob o olhar impávido e sereno dos agentes, que nem se mexeram. E o condutor lá seguiu à sua vida, feliz e contente, por nem sequer ter sido admoestado por esta infracção ao Código da Estrada.
Obviamente que quem, como eu, assistiu a tudo, nem queria acreditar no que tinha acabado de acontecer. Talvez por isso, por sentir os olhares reprovadores dos transeuntes e por sentir que a sua autoridade estava a ser duplamente posta em causa, um dos agentes dirigiu-se a um segundo automobilista que tentava a mesma proeza, um homem já com os seus 70 anos, com as seguintes palavras: "Então o que é isto? Vá, vamos lá para trás". Claro que o idoso reclamou, invocou o caso do primeiro automobilista, a quem nenhum dos agentes ali presentes tentou sequer parar, mas de nada lhe valeu. Desta vez, o agente foi intransigente e decidiu cumprir o seu dever.
Porque em política faz sempre falta um pouco de humor, e porque hoje a função pública esteve em greve, deixo-vos aqui algumas ideias (enviadas pelo meu amigo Carlos Martins) que os funcionários públicos podem utilizar nas suas camisolas em próximas manifestações:
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