Uma breve troca de olhares terá sido o suficiente para Rui e Fátima se apaixonarem. Mas o que parecia ser o início de uma bela história de amor, para este jovem casal acabou por ser o começo de um pesadelo. Sendo padre, Rui está proibido de usufruir daquilo a que para o comum (?) dos mortais é tido como uma bênção de Deus: o amor conjugal e a formação de uma família. Prisioneiros de uma filosofia castradora daquilo que o ser humano tem de mais belo, graças a uma Igreja Católica que não quer actualizar-se, a Rui e a Fátima nada mais restou do que fugirem. Da família. Dos amigos. Da sua vida. Aconteceu em Celorico de Basto!
Haja alguém no seio da Igreja Católica que conheça a vida real do seu rebanho e não se limite a debitar preceitos éticos e morais totalmente desfasados da realidade, assentes em pilares carcomidos! Depois de ter defendido que o uso do preservativo por pessoas infectadas com doenças sexualmente transmíssiveis é uma obrigação moral, o bispo de Viseu diz que respeita o divórcio como última solução para casos de violência doméstica. E assenta esta sua convicção no aumento preocupante deste tipo de crime. A hierarquia da Igreja Católica tem-se mostrado preocupada com as posições de D. Ilídio Leandro, quando devia era ouvi-lo atentamente e aprender algo sobre a vida real.
É inevitável voltarmos a este tema!
D. Saraiva Martins, um dos dois cardeais portugueses com assento no Vaticano, considerou ontem, na Figueira da Foz, nos já famosos "125 minutos com Fátima Campos Ferreira", que a "homossexualidade não é normal". E, por isso, um casal homossexual nunca poderá "providenciar a formação das crianças".
Estas são palavras proferidas por um alto representante da Igreja Católica. A mesma Igreja que durante séculos e séculos apoiou os Estados que consideravam as mulheres seres menores e, como tal, lhes retiravam direitos sociais, económicos, políticos e jurídicos.
A mesma Igreja Católica que ainda hoje recusa ter mulheres na sua hierarquia.
A mesma Igreja Católica que se manifestou contra o registo civil, o casamento civil e o divórcio.
A mesma Igreja Católica que ainda hoje defende que o sexo deve ser apenas praticado com vista à procriação e não porque dois (ou três ou quatro) seres desejam ter prazer dessa forma.
A mesma Igreja Católica que continua a proibir o uso de métodos contraceptivos, mesmo que com estes se evitem gravidezes indesejadas ou doenças sexualmente transmissíveis.
A mesma Igreja Católica que se queixa de estar a perder fiéis. Será que ainda não percebeu porquê?
Argumentar que o casamento homossexual será uma realidade em Portugal "quando for oportuno", como o PS alega, é pura hipocrisia. Impor disciplina de voto numa matéria tão sensível quanto esta - onde o que está em causa são direitos, liberdade e garantias constitucionalmente consagrados - é pura demagogia.
A posição actual do PS nesta matéria deriva mais de uma estratégia definida para o médio prazo do que de uma convicção política. No próximo ano há eleições (legislativas e autáquicas) e os socialistas não querem perder os votos do católicos. Bem basta já a tão polémica aprovação da lei da interrupção voluntária da gravidez. E por essa mesma razão, o assunto não fará parte do próximo programa eleitoral.
Adiar a aprovação do casamento homossexual é hipotecar a vida de muitos portugueses (alguns dos quais filiados no PS), é negar-lhes direitos consagrados constitucionalmente, é tratá-los como portugueses de segunda. É fomentar a homofobia, dar um claro sinal de conservadorismo bacoco e ajoelhar o país aos pé da Igreja Católica. Só falta mesmo implorar pelo regresso da Santa Inquisição e extirpar este mal da sociedade portuguesa.
Descobri José Saramago, o escritor, em 1992, quando espoletou a polémica em torno de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, com o então subsecretário de Estado da Cultura, Sousa Lara, a excluir o livro da lista de concorrentes ao Prémio Literário Europeu sob o argumento de que este não representava Portugal. Revoltou-me o facto de um governante de um Estado laico censurar um livro porque este colocava em causa um dos dogmas da Igreja Católica. E fiquei deveras surpreendida ao ler tão polémica obra.
A partir daí, tentei ler todas as obras de José Saramago e sempre que é anunciado o lançamento de um novo livro, aí estou eu nas livrarias à procura dele. Devoro (passe o exagero!) cada livro de Saramago. E nem a sua escrita sui generis, que para muitos é motivo suficiente para deixar uma obra a meio, me leva a desistir. Saramago é um dos melhores autores de língua portuguesa da actualidade. Poucos como ele conseguem retratar a sociedade em que vivemos e denunciar os seus podres. Só alguém com uma sensibilidade acima do comum e uma relação estreita com a escrita é capaz de tal feito. Dez anos depois do Nobel, Saramago continua de parabéns!
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