O debate do "Prós e Contras" (RTP 1) mais não era do que o rebater pela enésima vez os argumentos pró e contra Alcochete e pró e contra Ota, como localizações para o novo aeroporto internacional de Lisboa. Um debate morno que nada de novo trazia para a discussão. Eis se não quando, tomando da palavra, o presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha toca no busilis da questão: "todos sabemos, que quando um estudo é encomendado, quem o faz tem em conta as intenções de quem o encomenda". Por outras palavras, disse Fernando José da Costa (PSD), garantindo que tal é prática corrente, os técnicos ou juristas a quem um determinado parecer é pedido "dão um jeitinho ao texto" de modo a que o parecer sustente aquilo que a entidade que o encomendou pretende que seja a verdade. Se dúvidas existissem, estas ficaram hoje esclarecidas. Ficámos a saber que, pelo menos nas Caldas da Rainha, os pareceres pedidos pela autarquia serão sempre a favor dos pontos de vista defendidos por essa mesma autarquia. Mesmo que, em termos legais ou técnicos, devesse ser defendido precisamente o contrário.
No dia em que foram conhecidas as conclusões do relatório do LNEC (que privilegia Alcochete em detrimento da Ota como a melhor localização para o novo aeroporto internacional de Lisboa), o presidente desta entidade, Carlos Martins Ramos, foi o convidado de Judite de Sousa no programa "Grande Entrevista" (RTP 1).
Quatro dias depois, no programa "Prós e Contras" (RTP1), conduzido por Fátima Campos Ferreira, o mesmo presidente do LNEC e o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, desdobraram-se novamente em explicações sobre as vantagens da construção na nova infra-estrutura aeroportuária na Margem Sul do Tejo.
Será pura coincidência? Ou o Governo necessita de repetir constantemente os mesmos argumentos para, de facto, defender convictamente que esta é, sem dúvida, a melhor opção?
Há muito tempo que me apetecia criar um blogue assim, onde pudesse livremente discorrer sobre a política e os políticos portugueses, mas tal como outros projectos, este era mais um que eu vinha adiando sine die. Até que o Governo resolveu anunciar que o futuro novo aeroporto internacional de Lisboa será construído em Alcochete, precisamente no local onde o ministro das Obras Pública tinha garantido que "jamé!" seria construído. Afinal, é preciso não esquecer que Alcochete fica localizado num deserto. Mário Lino foi publicamente desautorizado pelo primeiro-ministro, mas continua a merecer a sua total confiança. E continua a aparecer nos meios de comunicação social a dissertar sobre este "projecto estruturante para o desenvolvimento do país". O episódio "Alcochete Jamé" ficará nos anais da história política portuguesa como um claro sinal de falta de sentido de orientação deste Governo, que parece navegar ao sabor de várias correntes. E a expressão "Alcochete Jamé!" como um sinónimo de "negar aquilo que queremos dizer". Resta-me apenas agradecer ao ministro Mário Lino por ter protagonizado este tão hilariante episódio. Certamente, sem este, continuaria a adiar sine die a criação de um espaço de crítica como este.
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