... ou a arte de bem fazer política à portuguesa
Sábado, 2 de Fevereiro de 2008
As verdades socráticas
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Sócrates não gosta dos jornalistas. Especialmente dos jornalistas que não se cansam de procurar a mais pequena nódoa que seja nas vidas profissionais daqueles que compõem o seu Governo e/ou nos processos de decisão ou nos corredores de São Bento. Se a nódoa tornada pública diz especificamente respeito ao primeiro-ministro trata-se logo de "um ataque pessoal e político" da parte do jornalista e do órgão de comunicação social para o qual trabalha. Assim é, diz Sócrates, no caso das reportagens ontem e hoje editadas pelo Público, da autoria de José António Cerejo; assim foi quando se descobriu que José Sócrates não é licenciado em Engenharia, e em tantos outros casos. O perfeccionismo do primeiro-ministro não lhe permite (nem intimamente) admitir que às vezes também erra, consciente ou inconscientemente, e que não lhe é permitido, de facto, controlar tudo e todos, por muito que se esforce nesse sentido e mesmo que para tal tenha que atropelar a lei.
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Veja-se o caso do semanário Sol, que se viu obrigado a processar o Governo por este se recusar a fornecer informações sobre os contratos que o Executivo celebrou com advogados nos anos de 2005 e 2006.O Supremo Tribunal Administrativo (STA) deu razão ao semanário considerando a postura do Governo "inaceitável", por se tratar de "uma verdadeira denegação do direito de acesso às informações pretendidas". Mais: o STA considera "que, a terem sido contratados advogados e juristas, foram-no com a utilização de dinheiros públicos, relativamente aos quais qualquer dicadão tem o direito de saber como foram gastos, e que, tratando-se de informação não reservada, a Administração está obrigada a prestá-la".
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Raros deverão ser os jornalistas que nunca se sentiram pressionados por membros do Governo a não publicarem determinada informação ou a desmentir uma notícia publicada. Eu já fui, por um assessor de um ex-ministro deste Governo, que queria obrigar-me a "rectificar" alguns dados publicados só porque estes eram desfavoráveis ao senhor ministro. Os dados eram "tão falsos" que o senhor assessor nem se atreveu a pedir a rectificação ao abrigo da Lei de Imprensa, o que nos obrigaria, de facto, a rectificá-los. Penso que isto diz tudo!
Jamé...:
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