... ou a arte de bem fazer política à portuguesa
Porque hoje é o Dia Internacional da Mulher...
... e porque muitas mulheres e homens não conhecem a origem deste dia, deixo-vos aqui um excerto da minha dissertação de mestrado:
"O dia 8 de Março de 1857 é outro dos marcos importantes na história das mulheres no movimento operário internacional. Cansadas da discriminação de que eram alvo nos locais de trabalho e exigindo a redução do número de horas diárias de labor, de 14 para 12, e o direito à licença de maternidade, as operárias das fábricas de vestuário e têxteis de Nova Iorque promoveram aquela que seria a primeira greve feminina no mundo, acompanhada por uma marcha pela cidade. A paralisação terminou de forma trágica. Por razões nunca devidamente esclarecidas, deflagrou um incêndio na fábrica têxtil Cotton - onde as trabalhadoras se tinham refugiado da polícia, que as perseguira de forma violenta, segundo os relatos da época -, o que causou a morte a 129 mulheres.
Em 1908, milhares de mulheres voltaram a desfilar pelas ruas de Nova Iorque, reivindicando as mesmas medidas, bem como o direito ao voto. As principais palavras de ordem eram «pão» e «rosas», significando o pão a estabilidade económica e as rosas, a qualidade de vida. Nesse ano, o Partido Socialista norte-americano cria o Comité Nacional de Mulheres, cujo primeiro acto foi o de declarar o último domingo de Fevereiro como sendo o Dia Nacional da Mulher. As primeiras celebrações ocorreram a 23 de Fevereiro do ano seguinte, encabeçadas pelo Partido Socialista, e coroaram-se de grande êxito. Em 1910, as comemorações contaram com a participação em massa das operárias das fábricas de tecido de Nova Iorque, que se encontravam em greve. Calcula-se que dos 30 mil grevistas, 80% eram mulheres. A paralisação durou três meses, tendo terminado apenas no dia 15 de Fevereiro, véspera do Dia Nacional da Mulher.
Nesse durante o Congresso Internacional das Mulheres Socialistas, realizado em Copenhaga, sob proposta da dirigente do Partido Social-democrata alemão Clara Zetkin[1], o dia 8 de Março é instituído como o Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, em homenagem a todas as operárias que lutavam pela aplicação de medidas que traduzissem melhores condições de trabalho e pela instituição do sufrágio feminino. A proposta foi aprovada por mais de 100 mulheres (incluindo as três primeiras eleitas para o Parlamento finlandês) oriundas de 17 países. No ano seguinte, na sequência deste encontro, realizaram-se diversas manifestações, que reuniram milhares de pessoas nas ruas da Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Contudo, seria necessário esperar até 1921 para que a data fosse adoptada universalmente como Dia Internacional da Mulher (que ainda hoje se assinala), o que aconteceu durante a Conferência das Mulheres Comunistas, realizada em Moscovo. Até então, o Dia da Mulher não tinha uma data uniforme. A Rússia, por exemplo, assinalou essa data no dia 3 de Março de 1913, enquanto que em França tal sucedeu a 9 de Março de 1914 e nos Estados Unidos, a 19 de Março do mesmo ano.
[1] Clara Zetkin (1857 – 1933) – Professora primária e política alemã, aderiu ao Partido Social-Democrata, dirigindo, a partir de 1892, o jornal oficial do SPD. Entre 1891 e 1917, foi redactora-chefe da revista Die Gleichheit (A Iguadade). Em 1895, integra a direcção do SPD como membro da comissão de control, tendo sido a primeira mulher a desempenhar estas funções. Participa em todos os congressos da II Internacional, tendo sido a responsável pelo relatório sobre a situação e o movimento das mulheres trabalhadoras. Em 1920, representou o Partido Comunista no Reichtag, fixando-se, mais tarde, na Rússia (1923 – 1927). "
Nesse mesmo ano, durante o Congresso Internacional das Mulheres Socialistas, realizado em Copenhaga, sob proposta da dirigente do Partido Social-democrata alemão Clara Zetkin